O Jardim das Delícias Terrenas
Coisas estranhas e improváveis germinam no jardim da Les Fleurs (du Mal). Guitarras cultivadas no Punk, teclados serpenteantes, influências literárias, sombras góticas, desvarios psicodélicos, um humor pythonesco… Rock autoral com um cheiro oitentista. Perdido? Aqui você encontrou morada.
A semente foi plantada lá nos inquietos anos 80. Enquanto Richard Kraus inovava no underground brasileiro com o Harry, cultuada banda santista pioneira na mistura do rock com o eletrônico (Pós-Punk total!), André Fujiwara passava por seus primeiros grupos de garagem. O trio central do Les Fleurs (du Mal) se completa com Reginaldo Maciel. O nome em francês foi emprestado da obra do poeta maldito Beaudelaire e já prenunciava a sombra gótica que acompanharia uma parte do trabalho da banda, assim como uma aproximação com a literatura. Vários músicos da cena itatibense passaram pelo Les Fleurs. A atual formação conta ainda com Rafael Presotto na bateria e o baixista Andrezinho.
Preparando o solo: 1976-2000
Harry em foto publicada na revista Bizz Especial - Letras Traduzidas nº6 (1989).
Quem é o Harry?
O Harry foi uma daquelas bandas oitentistas que só não foram maiores por estarem a frente do seu tempo, como o Violeta de Outono e as Mercenárias. Com o Harry, Richard grava um EP e dois álbuns: Harry – The Caos EP e Fairy Tales, pela Wop Bop, e Vessel’s Town, pela Stiletto. A banda se manteve ativa até 1990. Entre 1991 e 1993 os integrantes do Harry continuaram se encontrando em diferentes projetos. No caso de Richard as bandas CPC e Big Fish. O Harry volta e se reunir para gravações em 1994, o que resultou na coletânea Chemical Archives, distribuída pela Cri Du Chat Disques. Daí em diante o Harry se reunirá esporadicamente.
Nesse meio tempo André formou o Liberado Sem Cortes, talvez a única banda de rock de Itatiba no período. O grupo chegou a trabalhar algumas composições próprias, mas a coisa não seguiu adiante. No final dos anos 90, com a desgaste da banda e buscando explorar novas sonoridades, André forma com Bill Batera (a.k.a. Wilson Jr) e seu irmão César o Authopsia.
Quem é o Authopsia?
O Authopsia acabou por se tornar uma das mais queridas bandas do cenário roqueiro itatibense. Afinado com a sonoridade do início dos anos 90, em especial o grunge e o thrash, o Authopsia influenciou as bandas da cidade e ficou conhecido em toda a região. Com a sua formação clássica (André – baixo, Bill Batera – bateria, Juan – teclados, João – guitarra e voz e Eduardo – guitarra) a banda gravou e lançou de forma totalmente independente o álbum Breaking the Chains. Neste trabalho que reunia influências diversas, André era o principal letrista. A banda se separou em diferentes projetos, mas os integrantes do Authopsia mantêm sua amizade, o que sempre gera entre os fãs a esperança de uma reunião.
Authopsia circa 2000
Semeando o terreno: 2001-2002
Após deixar o Authopsia, André seguiu como baixista no Raindrops, uma banda punk/powerpop sediada em Campinas, com quem gravou em 1999 o EP Sweet Girl. É dele a música I Feel So Good. No Raindrops André pode explorar mais suas influências fora do metal. Há uma certa confusão em relação a banda, que era formado por dois Andrés e um Anderson. O guitarrista André Biaggio era o principal compositor, guitarrista e cantor, e o André Fujiwara o baixista. A banda acabou se desfazendo e depois foi remontada pelo guitarrista André Biaggio, se transformando no Superdrive.
Simultaneamente, André Fujiwara atuava como cavaquinista no Zhen Brasil, uma banda de samba e pagode jundiaiense formada apenas por descendentes de japoneses. Uma atitude que muitos que conheciam o músico da cena roqueira achavam estranha, mas que refletia a busca por diferentes sonoridades e uma curiosidade musical. Mesmo antes do Zhen Brasil, o músico já havia acompanhado como baixista cantores de diversos estilos, como os sertanejos Adalto & Adalberto, MPB e outros. A banda durou até 2003, tendo gravado um CD intitulado Zhen Brasil e participado de diversos programas da televisão, como Domingão do Faustão, Ana Maria Braga, Samba, Pagode & Companhia, Fábio Jr e outros. O livro Brazilian Popular Music and Citizenship, uma coletânea sobre música e globalização, traz um capítulo inteiramente dedicado ao Zhen Brasil.
Enquanto isso, Richard, novamente em Itatiba, tocava teclado com a Rico Alento Blues Band e esporadicamente se reunia com seus companheiros do Harry
Em 1976, Richard Kraus, na época Richard Kraus Johnsson, dava início a banda Yardrats em Santos, embrião do Harry, pioneira banda santista do underground paulista. Nesse final dos anos 70, em São Paulo, André começava a se interessar por música, tendo como principal influência o Muppet Show. Depois de uma fase voltada para a música clássica e as trilhas sonoras instrumentais, em especial John Willians e Enio Morricone, André começa a se aproximar do rock progressivo e da new wave.
Os anos 80 chegam. É um período prolífico para a música em todo o mundo, para o bem e para o mal. Foi entre 1984 e 1985 que ele comprou seus primeiros LPs: Queen – The Works e Devo – New Traditionalists. A partir daí André se torna um ávido explorador, buscando discos de rock de todas as vertentes. O período entre 1985 e 1986 foi catalisador na história do Les Fleurs. André, agora morando em Itatiba, começa a tocar baixo com amigos de escola (com um repertório que era formado basicamente pelo primeiro disco do RPM). Richard, depois de um período em Itatiba onde cursou psicologia, retorna para Santos para ser tecladista da banda Bi-Sex. Devido a um triste incidente que resultou na morte do baixista dessa banda santista, Richard assume o instrumento e nasce o Harry.